segunda-feira, 10 de março de 2014

A refinada arte de ouvir - por Daniel Luz

Na coluna "Recarregando a Bateria Humana" desta semana...

“Deus nos deu não apenas dois ouvidos em uma boca, mas também o potencial de aprender. Quanto mais ouvimos e aprendemos, mais capazes ficamos de compreender o potencial que nos foi legado.”
- John Marks Templeton, 1912 -2008 Investidor e filantropo americano.

A refinada arte de ouvir

“Seja rápido ao escutar, lento ao falar” 
Palavras de Tiago, um dos discípulos de Jesus. Cerca de 40-50 d.C. (Tiago 1.19)

John Maxwell (Dr. John Calvin Maxwell, autor, palestrante e pastor evangélico, com mais de 12 milhões de livros vendidos) conta uma encantadora história de uma senhora de 89 anos que tinha problemas de audição. Ela foi se consultar com um médico e, ao terminar a consulta, ele disse a ela: “Existe agora uma técnica que pode corrigir seu problema auditivo. Para quando a senhora gostaria de marcar a operação?”.
“Não vai haver nenhuma operação porque não quero corrigir minha audição”, respondeu a mulher. “Estou com 89 anos e já ouvi o suficiente!”

Em qualquer idade, existem momentos em que podemos pensar  “Eu já ouvi o suficiente e não quero ouvir mais nada”. Karl Menninger, psiquiatra americano, acreditava que “Os amigos que nos escutam são aqueles a quem procuramos e de quem queremos ficar perto”.  Se um relacionamento é importante para nós, é sensato lembrar que a diferença entre alguém se sentir á vontade conosco ou nos evitar depende da nossa disposição de ouvir.
Dr. Paul Tournier, o eminente psiquiatra e autor suíço, referiu-se da seguinte maneira a essa necessidade universal. “É impossível”, disse ele, “enfatizar demais a imensa necessidade que os seres humanos têm de serem ouvidos, de serem levados a sério, de serem compreendidos. Ninguém pode se desenvolver livremente neste mundo e sentir-se realizado sem ser totalmente compreendido pelo menos por uma pessoa... Preste atenção às conversas que acontece no mundo, tanto entre os países quanto entre casais. Elas são, em sua maior parte, diálogos entre surdos”.
Suas palavras me condenaram. Elas geralmente fazem isso..., mas essas me acertaram profundamente. Porque alcançaram uma área de fraqueza em minha própria vida. Não uma fraqueza visível; mas uma muito bem escondida. Mas há algum tempo comecei a perceber que precisava aprender a dominar uma matéria muito mais difícil do que falar..., que exige uma habilidade enorme.
Ouvir.
Não estou dizendo somente escutar. Ficar sorrindo e consentindo enquanto a boca de alguém se move. Meramente ficar quieto até que chegue a “sua vez” de dizer algo. Todos nós somos bons nesse jogo – jogado na vida social,
Diálogos de surdos! Os sons saem das cordas vocais: ruídos guturais são transformados em palavras por línguas e lábios. Mas tão pouco se ouve – quero dizer, realmente se ouve. Como Samuel Butler, eminente poeta e catedrático inglês, disse uma vez: “São necessárias duas pessoas para dizer algo – a que fala e a que ouve. Uma é tão importante quanto a outra”.
Li sobre um homem que desceu do metrô de Washington, D.C., na estação L’Enfant Plaza, e pôs-se junto à parede, perto de uma lixeira. Ele vestia uma camiseta de mangas longas, calça jeans, e um boné do time de beisebol Washington National. Tirou um violino de um estojo comum, deixou o estojo aberto no chão, pôs dentro dele alguns dólares e começou a tocar.
O trânsito matinal de pedestres era pesado, e muitos se apressavam para o trabalho; provavelmente funcionários do governo. L’Enfante Plaza fica no meio de Washington federal. A maioria das pessoas eram burocratas: consultores, gerentes de projetos e especialistas.
Durante 43 minutos, ele tocou seis peças clássicas. Nesse breve tempo, 1097 pessoas passaram por ele. A sua música não foi notada; poucos pararam. O trabalho e o dia estavam-lhes à mente. Preocupações com tarefas, desafios ou oportunidades têm um modo de ocupar-nos o foco.
Algumas das pessoas podem ter apreciado por um curto instante o som preciso e perfeito do violino. Algumas devem ter-se irritado ou pensado: Por que este cara não arranja um trabalho de verdade, como todo mundo? Outros podem ter tido a rápida ideia de que este rapaz poderia ser realmente bom – caso se dedicasse um pouco a isto.
O Violinista parado junto à parede nua, enquanto centenas de pessoas passavam por ali, era Joshua Bell, de 39 anos, um dos músicos clássicos mais admirados do mundo, tocando algumas das mais refinadas peças já compostas, num Stradivarius de 3,5 milhões de dólares.
Gene Weingarten, o premiado jornalista do Washington Post, comentou: “Joshua Bell rotineiramente enche as salas de concertos em todo mundo. Mas quando transeuntes da hora do rush têm a oportunidade de ouvi-lo de graça, sequer fazem uma pausa para escutá-lo”.
O jornal Washington Post estava fazendo uma experiência, cujo tema era percepção e prioridades. (Gene Weingarten: “Pearls Before Breakfast”,Washington Post, 8 de abril, 2007, p. W10)

Para recarregar a bateria:
A preocupação diária e a nossa escolha em não ouvir aqueles à nossa volta podem fazer com que deixemos passar algumas pessoas – e oportunidades – especiais. O perigo de não ouvir pode estar na possibilidade de não atentar para algo crucial. Podemos não perceber uma ideia brilhante, não perceber um novo e maravilhoso talento, ou deixar escapar a solução que procurávamos.
Em que conversa fingíamos estar envolvidos, enquanto nos preocupávamos com os próprios pensamentos? Que momentos escolhemos ignorar, quando por um breve instante, poderíamos ter ganhado uma tremenda inspiração, ou descoberto uma pessoa? O que perdemos de nossos filhos, cônjuges, subordinados, chefes, ou amigos, por não estarmos ouvindo? Estar no topo pode levar-nos a não pensar em mais nada além de nós mesmos.
Há algum tempo assistia a um documentário sobre Paul Potts e como ele foi descoberto, fiquei emocionado. O documentário relatava que o programa de televisão “Britain’s Got Talent” estava procurando por alguém para representar a rainha no Royal Variety Performance. O vencedor receberia 250 mil libras.
Paul Potts (http://www.youtube.com/watch?v=iS-F0ZfSEUA),  um vendedor de celular no país de Gales, pisou humildemente no palco, usando um terno barato, um corte de cabelo ruim, e pouca expressão facial. Seu físico baixo e acima do peso causaram reações iniciais negativas na audiência. Simon Cowell, o jurado notoriamente crítico, e o imenso auditório olharam para o ousado candidato e, rapidamente, analisaram-no como um pretendente sem chance. Ninguém espera uma performance de qualidade.
Paul Potts havia passado por muitos problemas de saúde. Um apêndice supurado, um grande tumor na glândula suprarrenal, e uma clavícula quebrada numa queda de bicicleta – quando ia para o trabalho – fazia parte de sua maré de má sorte.
Fitando os olhos dos jurados, ele começou a cantar “Nessum Dorma”, tornada famosa por Luciano Pavarotti. A voz parecia surreal. O diapasão era perfeita. Imediatamente, todos passaram a escutar. O queixo de Simon Cowell caiu, os outros jurados olhavam abismados, e as lágrimas rolaram pela face deles. Seus corações achavam-se pasmos e profundamente comovidos.
Potts recebeu a ovação de um auditório de 2000 pessoas, que o aplaudiu de pé, no Cardiff’s Millennium Center, e o elogio do júri, que incluía o ex-editor de tabloide, Piers Morgan, e a atriz Amanda Holden.
Potts relatou: “Ouvi dizer que alguns dos ouvintes desfizeram-se em lágrimas, e que Amanda diz que os cabelos de sua nuca se se arrepiam quando ela se lembra”.
Algumas semanas mais tarde, diante de 13 milhões de espectadores, ele parecia um pouco diferente. As pessoas disseram que passaram a ver e ouvir Paul Potts com olhos e ouvidos diferentes. Agora, enxergam-no além da aparência, roupa ou corte de cabelo, etc., e ouvem apenas a ele. Ele roubou a cena, e naquela noite ganhou todo dinheiro. Sua vida foi para sempre mudada.
Quantos Paul Potts existem por aí? Demasiadamente rápido, analisamos as pessoas por sua estatura, vestimenta, raça ou renda.
Estamos ouvindo aqueles á nossa volta? As pessoas geralmente se comunicam sem palavras. Os membros de nossa família sinalizam o tempo todo. Nossos subordinados, chefes, colegas de trabalho, professores e alunos acham-se continuamente em comunicação.
Ouvir significa ler a linguagem corporal, escutar as palavras e os tons da voz, e usar a intuição. Todos nós possuímos um “terceiro ouvido”, que escuta a comunicação, concentrando-se em mais que simplesmente palavras. Se formos cuidadosos no prestar atenção entenderemos com grande acurácia o que os outros estão realmente dizendo, ou tentando dizer.
Dois ouvidos. Dois olhos e somente uma boca. Talvez isso nos mostre alguma coisa. Eu desafio você a tentar, junto comigo, ser um ouvinte melhor. Com seu cônjuge. Seus amigos. Seus filhos. Seu chefe. Seu Professor. Seus alunos, enfim...  Todo aquele que precisar de atenção.


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